AS ORIGENS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Muitos historiadores têm chamado a atenção para a atmosfera que por toda a Europa em 1914 promovia uma mentalidade bélica, e para a excitação gerada pela declaração de guerra. Em agosto de 1914, os jovens clamavam por serem convocados. Não só na Alemanha, mas também na Grã-Bretanha, na França e na Rússia, considerava-se que a guerra oferecia uma fuga pitoresca de uma vida aborrecida, dando oportunidade ao heroísmo individual e aos atos de rebelde bravura. Nas décadas anteriores a 1914, a educação se difundira por toda a Europa, e com ela chegaram os jornais populares e a ficção romântica escapista. A guerra foi popularizada por essa literatura como uma força positiva que podia promover a disciplina, a lealdade e a camaradagem. Os jovens liam contos épicos sobre feitos heroicos na fronteira noroeste, sobre lutas na floresta para disseminar a civilização e o cristianismo e sobre batalhas contra os índios nas fronteiras do oeste selvagem. Aventureiros e mercadores intrépidos inflamavam a imaginação com seus êxitos contra populações nativas e com as enormes extensões dos territórios que anexavam. (...) Ao mesmo tempo, a imprensa popular tinha um tom xenófobo e apressava-se em promover os interesses do governo nacional em face de desafios estrangeiros. As teorias da evolução e as noções populares a respeito da sobrevivência dos mais aptos derramavam-se sobre o pensamento nacionalista.
Ruth Henig – Editora Ática.
O LEGADO DA GRANDE GUERRA
Além de nove milhões de mortos e 400mil inválidos, a Grande Guerra deixou marcas profundas na sociedade, no modo de vida e de pensar, trouxe mudanças políticas e econômicas. No campo político, a vitória dos países democráticos (EUA, França e Inglaterra) deu nova força ao liberalismo contra os regimes autoritários onde o poder e o voto eram privilégios de poucos. As relações internacionais levaram em conta as conversações diplomáticas. Todavia, os países acostumados ao autoritarismo político tiveram dificuldades em adotar um sistema democrático assim em curto prazo, de modo que em poucos anos surgem novos sistemas autoritários, como o fascismo (Itália), o nazismo (Alemanha) e ditaduras em vários países da Europa.
Na economia, os países perdedores se endividaram, se arruinaram, causando as consequentes dificuldades de vida do povo e inflação. Os países vitoriosos, sobretudo os Estados Unidos, tornaram-se credores de grandes empréstimos e fornecedores de produtos e tecnologia. Surgiu a indústria da guerra, com investimento de grandes somas e armamentos, temendo-se os desastres de futuros conflitos.
No campo social, a guerra mudou muita coisa. Muita gente saiu dos campos arruinados e foi tentar a vida nas cidades. A mulher tornou-se mais independente, com direito de voto em alguns países. Muitos valores morais e culturais foram mudados, aumentou o sentimento religioso. A guerra despertou os sentimentos pacifistas e o entendimento internacional.
Milhares de pessoas no mundo todo, alarmadas com as atrocidades e os horrores da guerra, perderam as esperanças, principalmente os jovens, de que os políticos e as autoridades constituídas tivessem a capacidade de fazer uma sociedade melhor, mais livre e justa.
O NACIONALISMO EXAGERADO FOI O GRANDE RESPONSÁVEL PELA ECLOSÃO DA GUERRA
O nacionalismo é um componente básico do século XIX. E essa paixão nacionalista, levada ao extremo, conduziu o mundo, rapidamente, a Primeira Grande Guerra.
Na Itália, verifica-se o “Irredentismo”. Apesar de unificada em 1870, as províncias da Istria, Tirol e Trentino – províncias irredentas ou não incorporadas -, ainda que habitadas por maioria de italianos, continuavam em poder do Império Austro-Húngaro. A nação italiana não se conformava com isso.
Na Alemanha, crescia o sentimento do pangermanismo: os alemães afirmavam que todos os povos europeus de origem germânica (dinamarqueses, holandeses, luxemburgueses, austríacos, poloneses) deviam se unir para a formação de uma “Grande Alemanha”.
Na Rússia havia algo semelhante: o pan-eslavismo, pregando a união dos povos de origem eslava (tchecos, eslovacos, croatas, sérvios, bósnios), sob a liderança da Rússia, para a formação de uma grande nação eslava.
Na verdade, tanto o pangermanismo como o pan-eslavismo eram disfarces para as pretensões expansionistas, tanto da Alemanha, como da Rússia, sobre os povos da Europa central, oriental e balcânica. No caso específico dos russos, pretendia-se, ainda, uma saída para o Mar Mediterrâneo e, ao mesmo tempo, uma influência na Península Balcânica, que contrabalançasse com o poder da Monarquia Austro-Húngara na região.
A situação torna-se mais complexa, quando consideramos que o Império Otomano, liderado pela Turquia, embora em decadência, também tinha interesses na região balcânica, determinando um triplo antagonismo na área: Rússia, Áustria-Hungria, e o próprio Império Otomano.
Finalmente, os problemas relativos às minorias nacionais fortemente dominadas pela Áustria, e que pretendiam a própria autonomia. A monarquia austríaca era um foco permanente de tensão: húngaros, tchecos, eslovacos, bósnios, croatas, poloneses e italianos viviam em seu território. Detestavam o domínio austríaco e sonhavam com independência.
A BATALHA DO ALIMENTO: fome e doenças matam na Alemanha
Na Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial, o maior problema enfrentado pelas populações das cidades foi a fome. Leite, manteiga, batatas passaram a ser produtos de luxo. Só eram encontradas no mercado negro e compradas apenas pelos ricos.
Quando havia abastecimento, havia também racionamento. Cada pessoa tinha o direito a um ovo, 2,5Kg de batatas, 20g de manteiga e de 100 a 190g de carne por semana. A banha, para cozinhar, era de 225g por quinzena. Mas a beterraba e o nabo eram fáceis de serem encontrados. Algumas pessoas que viveram nessa época contam que nas cantinas o nabo era servido em todas as refeições.
A população pobre era a que mais sofria. Quase 200 mil pessoas entravam diretamente em longas filas para conseguir comer um prato de sopa distribuído pelo exército. Eram os chamados “canhões do guisado”.
Como consequência da miséria, o roubo era inevitável. Roubava-se desde roupas até cães para matar a fome. Muitas crianças sobreviviam apenas com as ralas sopas de batata ou com as frutas que conseguiam apanhar nos quintais das casas.
Para sobreviver com tanta escassez, os jornais ensinavam às mães receitas miraculosas para transformar as beterrabas e os nabos em suculentas comidas, que, evidentemente, eram sempre regadas com água salgada.
Com tanta fome, as mortes não ocorriam apenas no campo de batalha. A desnutrição tornava as pessoas vulneráveis às doenças. A tuberculose, o tifo, a cólera e as epidemias de gripe, também mataram milhares de pessoas, na Alemanha, durante a guerra.
#SAIBA MAIS:
- Cólera – É uma doença infectocontagiosa do intestino delgado geralmente transmitida por meio de alimento ou água contaminados.
- Guisado – Picadinho refogado de carne.
- Nabo – Planta cuja raiz carnuda se emprega como alimento.
- Tifo – Nome de um grupo de doenças infecciosas febris, causadas por micro-organismos.
- Tuberculose – Doença infectocontagiosa do homem e de alguns outros animais, produzida pelo bacilo de Koch.
- Xenofobia – Aversão às pessoas e coisas estrangeiras.
QUESTÕES SOBRE OS TEXTOS
01.Qual o maior problema da Alemanha na época da Guerra?
02.O que eram os “canhões de guisado”?
03.Qual a consequência da miséria?
04.Por que ocorriam mortes fora dos campos de batalha?
05.Que consequências negativas na economia a guerra trouxe aos países perdedores?
06.Que consequências positivas trouxe para os países vitoriosos?
07.O que é a indústria da guerra?
08.Quais os aspectos positivos (lições) que a guerra deixou?
09.Nas décadas anteriores a 1914, a educação se difundira por toda a Europa, e com ela chegaram os jornais populares e a ficção romântica escapista. Como a guerra foi popularizada nessa época?
10.Muitos historiadores têm chamado a atenção para a atmosfera que predominava por toda a Europa em 1914. O que promovia essa atmosfera?
11.Cite e explique os tipos de Nacionalismo que surgiram, na Europa no século XIX?
12.Explique o tríplice antagonismo existente na região balcânica. Quais eram as potências antagônicas?
13.Qual a situação das minorias nacionais no Império Austríaco?