De uma maneira geral, a imagem de Tiradentes relaciona-se à do herói nacional, aquele que deu a vida pela pátria e pela independência do Brasil. No entanto, a Conjuração Mineira não teve o alcance nacional que bem mais tarde lhe foi conferido. Foram necessários exatamente 100 anos, isto é, em 1889, no contexto da Proclamação da República, para que houvesse a preocupação em resgatar a figura de Tiradentes. Afinal, ele esteve envolvido em um movimento no qual os ideais republicanos estiveram presentes.
O fato de não existir nenhum retrato de Tiradentes facilitou a apropriação de sua imagem por diversos grupos sociais e a associação de seu martírio ao de Jesus Cristo. Foi importante também o fato de o "herói da Inconfidência" ter sido, muito provavelmente, o único conjurado pobre e que, em princípio, teria mais contato com as camadas populares, apesar do caráter elitista do movimento.
A simbologia cristã apareceu em várias obras de arte. No quadro Martírio de Tiradentes, de Aurélio de Figueiredo (1854-1916), o mártir é visto de baixo para cima, como um crucificado, tendo aos pés um frade, que lhe apresenta o crucifixo, e o carrasco Capitania, de joelho dobrado, cobrindo o rosto com a mão. É uma cena de pé da cruz.
Mesmo na representação chocante de Pedro Américo (1843-1905), a referência a Cristo é inescapável. Seu Tiradentes esquartejado, de 1893, mostra os pedaços do corpo sobre o cadafalso, como sobre um altar. A cabeça, com longas barbas ruivas, está colocada em posição alta, tendo ao lado o crucifixo, numa clara sugestão da semelhança entre os dois dramas. Um dos braços pende para fora do cadafalso, citação explícita da Pietá de Michelangelo (1475-1564).
#SAIBA MAIS
- Cadafalso: Estrado alto para a execução de condenados; patíbulo.