-O texto abaixo, escrito em 1937, descreve a situação dos desempregados, em decorrência da crise que atingiu seu ponto mais crítico em 1929.
O PROBLEMA DO DESEMPREGO
Tomei consciência pela primeira vez do problema do desemprego em 1928... Lembro-me do choque, do espanto que senti, quando pela primeira vez me misturei com vagabundos e mendigos, ao descobrir que uma boa parte, talvez uma quarta parte dessa gente... eram mineiros e colhedores de algodão, jovens e honestos, contemplando seu destino com aquele assombro estúpido de um animal que caiu em armadilha. Simplesmente não conseguiam entender o que acontecia com eles.
Tinham sido criados para trabalhar, e – vejam! – era como se nunca mais fossem ter a oportunidade de voltar ao trabalho. Nessas circunstâncias era inevitável, no início, que fossem perseguidos por um sentimento de degradação pessoal. Tal era a atitude para com o desemprego naquele tempo: era um desastre que acontecia a você como indivíduo e a culpa era sempre sua.
ORWELL, George. O caminho para Wigan Pier. In: História do século XX. P. 3, São Paulo, Abril, 1974, p. 1351.
- O texto a seguir fala das impressões de um viajante que chega a Nova York na época da crise. Fala também, do número de desempregados.
CONSEQUÊNCIAS DA CRISE
As ruínas são ainda visíveis, e são terrificantes. Logo no porto de Nova York o viajante fica surpreendido, chocado pela calma trágica dum lugar que conheceu como o mais ativo do mundo... Há neste momento nos Estados Unidos cerca de 14 milhões de desempregados, e, como muitos deles têm família, 20 e 30 milhões de homens e mulheres vivem de esmolas, privadas ou públicas...
O espetáculo de uma grande nação de que um quarto se encontra reduzido à impotência produz emoções bem mais fortes do que uma estatística em preto e branco. Desde que põe pé neste país, o estrangeiro compreende de repente que em nenhum momento a Europa imaginou a dolorosa intensidade da depressão dos Estados Unidos.
MAUROIS, André. Estaleiros americanos. Lisboa, Plátano, p. 311.