A 3 de janeiro de 1925, Mussolini executou o movimento que finalmente transformaria seu regime numa autêntica ditadura. Num discurso proferido na Câmara, num tom desafiador, declarou que assumia total responsabilidade por tudo o que acontecera até então: “Se o fascismo tem sido uma associação de delinquentes, então eu sou o chefe desses delinquentes!”. Chegara o momento de acabar com todas as restrições e através da força conseguir resolver uma dura batalha entre “dois elementos irredutíveis”.
Os atos seguiram-se imediatamente a essas palavras: dissolução das organizações “subversivas”, fechamento dos clubes de oposição; buscas e prisões; o progressivo cerceamento da liberdade de imprensa; aumento das verbas destinadas à repressão pela polícia e às atividades de milícia fascista. Em seguida, em novembro de 1926, a liberdade recebeu seu golpe de misericórdia. Usando como pretexto um atentado contra a vida de Mussolini, cujas circunstâncias permaneceram envoltas em mistério, o governo adotou uma série de medidas que assinalaram o fim de qualquer atividade política independente que ainda existisse na Itália. Todos os partidos e associações que desenvolviam atividades consideradas contrárias ao regime foram fechados. Os deputados “aventinos” foram expulsos do Parlamento.
Instituiu-se a pena de morte para as violações políticas consideradas graves. Criou-se um tribunal especial composto por oficiais do Exército e da milícia que ficariam encarregados de julgar – por métodos sumários – os delitos políticos considerados de menor gravidade. Assim, toda e qualquer forma de oposição ou de crítica ao regime ficava confinada à clandestinidade.
O regime policial então criado era brutal, ainda que menos desumano e sanguinário do que, por exemplo, o nazismo alemão. As sentenças de morte promulgadas pelo tribunal especial em tempo de paz – isto é, até o fim de 1940 – não passaram de dez, cinco das quais aplicadas a nacionalistas eslavos acusados de atos de terrorismo. Houve 4 mil sentenças de prisão, algumas delas por longo período, enquanto aos membros da oposição considerados menos perigosos aplicavam-se penas de banimento temporário em áreas remotas como ilhas do Mediterrâneo, sob vigilância da polícia. Na realidade, nunca houve verdadeiramente campos de concentração ou campos de trabalhos forçados.
AQUARONE; A. A Itália de Mussolini. In: História do século XX. V. 3. São Paulo. Abril Cultural. P.1175-6.
SAIBA MAIS
- Segundo a mitologia, foi no monte Aventino que Hércules matou Caco. Durante a época do fascismo italiano, vários deputados da oposição refugiaram-se nesta colina após o assassinato de Giacomo Matteotti, aqui terminando — pela designada Secessão Aventiniana — a sua presença no Parlamento e, consequentemente, a sua atividade política. Atualmente constitui uma zona residencial de Roma.