- A vida de um trabalhador, no sistema feudal, não era fácil. Este texto mostra como era na época a vida dos camponeses e outros trabalhadores.
O camponês da Idade Média devia trabalhar violentamente desde o nascer ao pôr do Sol para conseguir apenas fazer sobreviver a família. A sua aldeia era parte do domínio do senhor feudal. Era uma série de cabanas construídas ao acaso, a um e outro lado de uma rua calcetada. A cabana – apenas com uma divisão – era feita de adobe, com armação de madeira e telhado de colmo. Possuía por vezes um pequeno campo onde cresciam legumes. Criava algumas galinhas, um ou dois porcos, e uma vaca que levava a pastar nos terrenos comunitários.
Mas como vilão ou servo, devia trabalhar três dias por semana (e mais em época de colheitas) nas terras do seu senhor. Nas regiões de planalto e de planície, estas terras estavam divididas em longas faixas paralelas que eram cultivadas de forma a darem duas e às vezes até mesmo três colheitas por ano.
A vida de um vilão era, portanto uma eterna marcha sobre um sulco, atrás de uma charrua de madeira puxada por bois. E às lavras sucediam-se as gradaduras, as sementeiras, a manutenção das cercas e valados, a ceifa, a sacha, a colheita, a debulha, o carreto, as vindimas em terra de vinhas e, evidentemente, o tratamento do gado.
O vilão não podia sequer guardar para si o pouco que recolhia de alguns pedacinhos de terra na sua posse. Devia ao seu senhor impostos e taxas, pagáveis em gêneros na maior parte dos casos. Tinha igualmente de entregar um décimo dos seus magros rendimentos à Igreja, isto é, o dízimo. Para as grandes festas, como a Páscoa ou o Natal, devia levar ao seu senhor certas quantidades determinadas de trigo, pão, ovos, criação, legumes e vinho. Por outro lado, era obrigado a moer todos os seus cereais no moinho do senhor, a fazer o seu pão no forno do senhor e levar as suas uvas ao lagar do senhor. Toda a sua vida estava de fato sob controle do castelo. Sem o consentimento do senhor não podia casar-se, nem vender gado ou terras, nem abandonar a aldeia, porque a sua partida diminuía a mão de obra. Se tentasse fugir ou era apanhado e castigado ou era obrigado a juntar-se às numerosas hordas de vagabundos que circulavam pelas grandes estradas.
Quando a colheita era boa, o camponês tinha a possibilidade de conseguir o seu sustento – pão negro, queijo e papas de farinha de cevada, acompanhadas de um pouco de carne (como coelhos, apanhados na floresta) e legumes frescos. Mas quando as colheitas eram insuficientes, o vilão e a família sofriam a fome e a doença nas suas cabanas sujas e superlotadas. O tempo de vida era, na Idade média, menos de metade em relação ao nosso, e uma percentagem importante de recém-nascidos morria.
Os artífices da aldeia – carpinteiros, fabricantes de telhas, colocadores de colmo nos telhados, estucadores, vidraceiros, pintores, ferreiros, entalhadores de pedra, eram obrigados a trabalhar também para o seu senhor, mas recebiam os salários em gêneros e um pouco em dinheiro. Os mestres de obras eram muito requisitados, e deslocavam-se permanentemente, construindo castelos, igrejas e catedrais, solares e mansões particulares. Quando as cidades aumentaram, todos estes artífices tiraram grande proveito, e o bem-estar dos servos da gleba melhorou também.
GILBERT, J. A vida de um cavaleiro, Lisboa, Verbo, p.20-1.
#SAIBA MAIS:
- Adobe - tijolo grande seco ao sol; tijolo cru.
- Calcetada - revestida com pedras justapostas.
- Charrua - arado.
- Colmo - palha comprida que serve para cobrir telhados.
- Gradaduras - consiste em aplainar com grade.
- Lagar - local onde se pisam os frutos para separar sua parte líquida da massa sólida, como as uvas para elaborar vinho.
- Sacha - trabalho de arrancar as ervas ruins num campo cultivado ou semeado.
- Vilão - habitante de vila.