A Guerra dos Emboabas (Minas Gerais) (1708 - 1709).
Emboabas era o nome pelo qual ficaram conhecidos os forasteiros na região das Minas. O conflito se arrastou por cerca de dois anos, com inúmeras cenas de violência praticadas por ambos os lados.
Os paulistas se diferenciavam em muito dos outros colonos; sua língua corrente não era o português e sim o tupi-guarani; andavam pobremente vestidos e quase sempre descalços. O termo “emboaba” tinha origem indígena, significava “galinha de pés cobertos de penas” e, se aplicado a qualquer forasteiro, sobretudo português, de pé calçado, ao contrário do natural da vila de São Paulo de Piratininga, que andava geralmente descalço, constituía insulto gravíssimo. O calçado servia para identificar o inimigo, e o xingamento “emboaba” era tão usual que até agora, ao ouvir um estampido à distância, há quem resmungue, em Minas, o dito antigo: “Ali morreu cachorro ou emboaba”. Por essa razão chamavam os outros colonos de emboabas, isto é, aqueles que andavam de botas.
O líder dos paulistas era Borba Gato, enquanto o português Manuel Nunes Viana, que vivera na Bahia e mudara-se para a região das Minas do Rio das Velhas, liderava os emboabas.
As autoridades da região eram paulistas. Os emboabas acusavam-nas de arbitrariedades de toda ordem. Já os paulistas estavam descontentes com o monopólio exercido pelos emboabas sobre o gado bovino para abastecimento da região.
As escaramuças começaram em 1707, com o linchamento de dois paulistas. No ano seguinte, Borba Gato tentou expulsar Nunes Viana do distrito do Rio das Velhas, mas não conseguiu seu intento. Pelo contrário, os paulistas passaram a ser desarmados pelos emboabas, tendo de ser retirar da região do Rio das Velhas e de Vila Rica. Os emboabas aclamaram Nunes Viana governador da região. Seus auxiliares diretos eram Francisco do Amaral Gurgel e Bento do Amaral Coutinho, conhecidos por agir com extrema violência.
O episódio mais conhecido dessa guerra – denominado Capão da Traição – ocorreu quando Coutinho, tentando expulsar os paulistas da região do Rio das Mortes, massacrou alguns deles. O número de mortos é calculado em 50, mas vários autores exageraram, chegando a escrever que teriam sido 300 os paulistas mortos à traição.
Após vários confrontos, com dezenas de mortos de ambos os lados, o conflito terminou em 1709. Para tentar impor a autoridade da Coroa, foram criadas a Capitania Real de São Paulo e Minas do Ouro e as três primeiras vilas mineiras. Em 1720, foi criada a capitania das Minas Gerais, que foi desligada da capitania de São Paulo.