A Conjuração Baiana (A Inconfidência Baiana)
Em 1798, foi a vez de um movimento que favorecia a independência de Salvador. A novidade dessa inconfidência foi a expressiva participação de pessoas mais humildes, inclusive escravos. Alguns autores chegam a afirmar que eram 600 os indivíduos que participavam do projeto de independência, mas nem todos teriam sido presos e julgados.
A situação de Salvador, no final do século XVIII, era a de uma capital pobre. Com aproximadamente 60 mil habitantes, dos quais 40 mil eram negros e mulatos, a população se via sem condições de arcar com a pesada carga tributária que lhe era imposta, ainda mais que muito comerciantes abusavam nos preços dos produtos de primeira necessidade. Diversos motins estavam ocorrendo, com açougues e armazéns sendo invadidos e os produtos distribuídos entre o povo.
Paralelamente ao desespero popular, setores médios e da elite, também insatisfeitos, congregaram-se na sociedade secreta Cavaleiros da Luz, em que as ideias de Jean-Jacques Rousseau eram discutidas e a ação dos grupos populares na Revolução Francesa de 1789 observada com entusiasmo. As ideias, em pouco tempo, atraíram o apoio de militares, médicos, artesãos e professores, atingindo até mesmo escravos e trabalhadores livres pobres.
Esse envolvimento de pobres e escravos acabou por se tornar o aspecto que distingue a Inconfidência Baiana da sua antecessora de Minas Gerais. Com efeito, na Bahia não se falou apenas em independência, república, liberdade comercial. Ponto importante do projeto baiano era o fim dos preconceitos contra os negros, a abolição da escravidão, o fim dos privilégios e a redução dos impostos. Tais planos começaram a ser divulgados em panfletos pregados nas paredes das igrejas, a partir de 12 de agosto de 1798, conclamando o povo a lutar pela liberdade e pela igualdade.
Das dezenas de prisões efetuadas, as condenações recaíram sobre soldados e alfaiates. Os membros da elite, que participavam da Sociedade dos Cavaleiros da Luz, foram todos absolvidos e alguns nem sequer foram julgados, pois eram pessoas muito influentes na Bahia.
A sentença foi dada em 7 de novembro de 1799. No dia seguinte foram “exemplarmente” enforcados e esquartejados os soldados Luís Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas e os alfaiates João de Deus e Manuel Faustino. Sete outros réus, entre eles cinco pardos, inclusive Sá Couto, foram degredados para a África. José Raimundo Barata de Almeida foi degredado, três anos, para a ilha de Fernando de Noronha. Seu irmão Cipriano Barata e o tenente Hermógenes, absolvidos. Os escravos envolvidos na revolta receberam açoites e seus senhores foram obrigados a vendê-los para fora da capitania. Os representantes da elite branca, pouco à vontade num movimento radical, receberam penas leves. A mão da justiça colonial batia pesadamente, mais uma vez, sobre as camadas populares que ousavam se levantar contra o regime.