No início do século XVII, os paulistas começaram a organizar grandes expedições ao sertão: eram as chamadas bandeiras, formadas às vezes por milhares de homens, distribuídos em divisões de militares, escrivães e capelães, entre outras. As bandeiras seguiam roteiros planejados e estabelecidos a partir, principalmente, da vila de São Paulo. A maioria de seus componentes era formada por índios (escravos e livres), usados como carregadores, guias e coletores de alimentos; apenas o núcleo de comando era formado por paulistas brancos e mamelucos. Geralmente, uma bandeira percorria o interior, seguindo os rios, durante meses ou anos, alimentando-se de caça, pesca, frutos e raízes como a mandioca, plantada em clareiras de florestas. Da mesma forma que os conquistadores espanhóis do México e do Peru, os bandeirantes demonstravam grande obstinação em encontrar pedras preciosas. E isso levava-os a desbravar um grande território desconhecido.
Com a instalação das missões jesuíticas nas proximidades dos rios Paraná e Paraguai, os bandeirantes começaram a orientar sua expedição para a conquista de escravos junto a populações indígenas que habitavam essas missões. Em 1629, uma bandeira com mais de três mil homens, liderados por Antônio Raposo Tavares, atacou e destruiu as reduções de Guaíra. Nos anos seguintes, outras bandeiras atacaram as reduções de Itatim (atual Mato Grosso do Sul). Calcula-se que, entre 1628 e 1631, cerca de 60 mil índios dessas missões foram escravizados ou mortos pelos bandeirantes.
Para a população missioneira tornou-se impossível viver nessa região e os jesuítas transferiram-se com mais de 10 mil indígenas para a zona situada entre os rios Paraná e Paraguai (atual província de Missões, Argentina). Essa retirada permitiu aos portugueses a posse de grandes extensões do território, antes consideradas propriedades da Espanha. Quando os jesuítas instalaram novas missões, nas regiões de Tape(atual Rio Grande do Sul) e Uruguai, os bandeirantes as atacavam seguidamente, entre os anos de 1637 e 1639, destruindo-as. Segundo os cálculos de historiadores jesuítas, os bandeirantes teriam escravizado, entre 1614 e 1639, cerca de 300 mil indígenas.
Na década de 1640, porém, o tráfico de escravos africanos voltava à normalidade, pois os portugueses conseguiram retomar o controle dos portos de escravos dominados pelos holandeses na África. Com isso, as lavouras de cana passaram a ser regularmente abastecidas com escravos africanos e a captura de indígenas deixou de ser um negócio rentável para os paulistas. No entanto, nessa mesma época, as minas de ouro e prata da América espanhola estavam se esgotando, e isso estimulou os conquistadores a irem em busca de novas jazidas de metais preciosos. Incentivados pelo Estado português, os bandeirantes colocaram então toda a sua experiência a serviço dessa busca. Partindo de São Paulo, em 1647, o paulista Raposo Tavares comandou, durante três anos, uma bandeira que atravessou o Mato Grosso e a Amazônia, chegando até as proximidades da Cordilheira dos Andes. Cerca de trinta anos depois, outra grande bandeira foi organizada e comandada por Fernão Dias Pais, que percorreu durante sete anos os sertões de Minas Gerais. No entanto, as jazidas de ouro só começaram a ser encontradas na última década do século. Os bandeirantes foram recompensados por seus esforços, pois a maior parte das zonas mineradoras ficara em poder de elementos vindos de outras capitanias e de Portugal.
Ao fim de dois séculos de história, os vicentinos não haviam realizado uma obra colonizadora, mas haviam feito extraordinárias conquistas para Portugal: praticamente tripicar o território da colônia e descobrir as jazidas de ouro que dariam prosperidade momentânea ao reino português.
SAIBA MAIS
- Monções: eram as expedições dos bandeirantes, que se utilizavam das vias fluviais (a partir do rio Tietê) para penetrar nos sertões.