Na Inconfidência Mineira, prevaleceu o tipo de motivação "mais colonial do que social". A inquietação teve por base a coerção exercida pela Metrópole através da cobrança dos impostos sobre a produção aurífera. A revolução foi dirigida pelos proprietários, "homens de possibilidades", diria Tiradentes, dessa região em plena decadência econômica.
Já na Inconfidência Baiana, prevalece o tipo de motivação "antes social do que colonial". A revolução foi impulsionada pela participação de pequenos artesãos, militares de baixo escalão, escravos e demais setores populares. Neste modelo, a ruptura se dá em três níveis: separação da colônia, mudança das instituições políticas e reorganização da sociedade em novas bases.
O pensamento mais radical da Inconfidência Baiana é o de Manuel da Santa Ana, que pretendia estabelecer "uma República de igualdade".
Mas o que verdadeiramente dá uma dimensão-limite à Inconfidência Baiana é a perspectiva da emancipação dos negros, o que implicaria a ruptura da sociedade estamental escravocrata e de toda superestrutura sobre ela assentada. Essa posição, entretanto, não tinha a possibilidade de vingar, pois as condições sociais ainda não estavam maduras para permitir uma mudança "dentro" da sociedade colonial. A contradição principal dava-se entre setores dominantes da Colônia e a Metrópole: a empresa colonial produziria homens que, já nos fins do século XVIII, "não mais se honram do nome português". São os proprietários que começavam a se opor ao processo de colonização, obstáculo ao livre desenvolvimento dos seus "cabedais" (patrimônios), no momento mais crítico do sistema colonial.
O sentimento nacionalista, vinculado à propriedade, iria significar uma fratura no processo de colonização e o despertar da consciência nacional.
CELSO FREDERICO
A ideia da revolução no Brasil colonial. In: Revista de História. São Paulo, Departamento de História da
FFLCH/USP, v. 42, (85), jan./mar. 1971. p. 213´4 (Fragmentos).