AS CRUZADAS
A partir do século XI, o sistema feudal começou a passar por intensas transformações. Se por um lado o fim das invasões bárbaras proporcionou uma maior estabilidade na Europa, por outro gerou um aumento populacional que comprometeu a autossuficiência dos feudos. Como havia mais homens para pouca terra, a população excedente foi expulsa em direção às cidades, que estavam praticamente abandonadas durante o auge do feudalismo.
Esse era o cenário no início da Baixa Idade Média, quando a Igreja e os nobres europeus empreenderam uma série de expedições militares, entre os séculos XI e XIII, que ficaram conhecidas como Cruzadas. Formalmente, tinham um objetivo religioso: retomar a cidade de Jerusalém, considerada sagrada pelos cristãos, que fora dominada pelos turcos muçulmanos em 1071. A expansão da fé católica também era fundamental para a Igreja manter seu poder, que começava a ser contestado na Europa. Sem condições de sobreviver em um espaço onde não existia uma atividade econômica que a absorvesse, a população passou a questionar os conceitos pregados pela Igreja de que tudo na Terra era representação da vontade de Deus.
Porém, várias outras motivações podem ser apontadas para a organização das expedições. A necessidade de escoar a população excedente e encontrar uma atividade que absorvesse esse excedente pode ser entendida como motivação social para o movimento cruzadista. Economicamente, as expedições abriam a possibilidade de expansão dos negócios a partir do restabelecimento de uma rota comercial com o Oriente a partir do Mar Mediterrâneo. Já do ponto de vista político, a conquista de novos territórios garantia aos reis a possibilidade de aumentar seu poder em um período que as estruturas descentralizadas do feudalismo começavam a ruir.
Dessa forma, em 1095, o papa Urbano II, no Concílio de Clermont, convocou as Cruzadas, prometendo a salvação para todos aqueles que lutassem e/ou morressem na "guerra santa" contra os pagãos - neste caso, os muçulmanos. Para a população, a oportunidade representava uma dupla vantagem: além de ter seus pecados perdoados, havia a possibilidade de, por meio de saques às cidades orientais, reduzir seus problemas econômicos. Entre 1096 e 1280 foram organizadas, oficialmente, nove Cruzadas.
Entre as expedições, destaca-se a Quarta Cruzada, também chamada de Cruzada Comercial. Realizada entre 1202 e 1204, ela foi financiada por comerciantes de Veneza e tinha princípios diferentes dos das missões anteriores. O objetivo era a tomada de Constantinopla e a reabertura da rota comercial entre o Oriente e o Ocidente. Anteriormente dominada pelos muçulmanos, ela passou ao controle dos comerciantes de Veneza.
RENASCIMENTO COMERCIAL E URBANO
Com a reabertura do Mediterrâneo ao comércio, estabeleceram-se rotas ligando regiões produtoras - como Flandres (atualmente Bélgica e Holanda), famosa por sua lã - e as cidades portuárias italianas que controlavam o contato com o Oriente - Veneza e Gênova. Nos cruzamentos dessas novas rotas foram organizados centros de comércio temporários. Eram as feiras, que reuniam mercadores de diversas partes da Europa.
Para se protegerem de assaltos, os mercadores passaram a se estabelecer ao redor de palácios e mosteiros, formando os burgos (de onde vem o termo burguês). Com o tempo, esses núcleos cresceram, e foram erguidas novas muralhas a seu redor. Constituíam-se, assim, as cidades. No entanto, por viverem em áreas ainda pertencentes aos feudos, os burgueses eram obrigados a pagar impostos aos senhores. A luta pela independência urbana ficou conhecida como movimento comunal, e a emancipação era garantida pelas cartas de franquia, documento que assegurava às cidades direitos como cobrar impostos e montar milícia. Livres da tutela feudal, as novas cidades se organizaram em ligas (ou hansas), para agilizar o comércio e congregar interesses. A mais importante foi a Liga Teutônica (ou Hanseática). Dentro das cidades, os burgueses também se organizaram em corporações. As mais conhecidas foram as corporações de mercadores, ou guildas, que limitavam o comércio estrangeiro e controlavam os preços, e as corporações de ofício, que agrupavam artesãos - com o objetivo de impedir a concorrência de quem produzisse o mesmo artigo. Na hierarquia das corporações de ofício, os mestres eram os proprietários das oficinas e donos das ferramentas. Cabia-lhes estipular salários e normas de trabalho. Abaixo deles estavam os oficiais, trabalhadores especialistas remunerados, e, por último, os aprendizes, jovens que recebiam roupas, alimento e moradia em troca de trabalho.
CRISE DO FEUDALISMO
Um dos primeiros sintomas da crise do sistema feudal foram as revoltas camponesas. A partir de 1358, começando pela região de Flandres, espalharam-se pela Europa. A causa principal foi a queda da produtividade da agricultura entre os séculos XI e XIV, que, junto com o crescimento da população e a resistência da nobreza em reduzir a parte do excedente que lhe cabia, provocou a fome entre os camponeses. Na França, receberam o nome de jacquerie. Castelos foram queimados, e nobres, assassinados. A nobreza contra-atacou, executando mais de 20 mil pessoas. Sublevações também ocorreram na Inglaterra e no norte da Itália.
A lém das revoltas, a peste negra chegou à Europa em 1347 pelo porto de Gênova. A epidemia, transmitida ao homem pela pulga do rato (o que não se sabia na época), espalhou-se com grande velocidade e provocou a morte de quase metade da população europeia.
A guerra também atingiu a Europa nesse período. A pretensão do rei inglês Eduardo III de disputar a sucessão do trono francês provocou a Guerra dos Cem Anos, entre França e Inglaterra. No decorrer do conflito destaca-se a camponesa mística Joana d'Arc (1412-1431), que alegava receber mensagens divinas desde criança. Sob sua inspiração, as tropas francesas conquistaram importantes vitórias, e ela se tornou heroína nacional. Capturada pelos ingleses, Joana'Arc foi acusada de bruxaria e condenada a morrer na fogueira, vítima da Inquisição. A guerra terminou em 1453, quando a França recuperou todas as possessões sob domínio inglês, venceu a guerra e, assim, preservou sua soberania nacional.
As principais consequências da crise feudal foram o enfraquecimento da nobreza e a flexibilização das relações de servidão. Depois do conflito, muito de poder associado à nobreza foi transferido aos reis, fragilizando as relações feudo-vassálicas e praticamente pondo fim ao sistema feudal.
#SAIBA MAIS
- A expressão Cruzada deve-se ao fato de que os participantes das expedições usavam uma cruz presa à roupa, e denominavam-se soldados da cruz ou cruzados. As Cruzadas são também chamadas de Movimento da Cruz.