O CÉU ESTÁ À VENDA
No outono de 1510, durante uma visita a Roma, Lutero espantou-se com a multidão de peregrinos em busca de uma redução de suas penas no purgatório. Os devotos acreditavam que obteriam esse benefício visitando os santuários possuidores de relíquias. O texto abaixo dá exemplos claros do exagero e da fraude de tal culto em toda a Europa, às vésperas da Reforma.
"Uma igreja romana, se a pessoa simplesmente entrasse nela, tirava-lhe quarenta e oito mil anos de sua sentença no purgatório. A cidade alemã de Wittenberg possuía dezessete mil relíquias, inclusive uma palha da manjedoura de Jesus, uma gota do leite de Maria e duzentos e quatro fragmentos dos ossos das crianças trucidadas por Herodes. A Catedral de Exeter, na Inglaterra, possuía a vela que iluminou o túmulo de Cristo e um raminho da Sarça Ardente, da qual Deus falara a Moisés. Um mosteiro, Durhman, guardava zelosamente a camisa da Virgem e mostrava-a aos peregrinos após a recepção de um pequeno donativo."
(O trecho entre aspas foi extraído de : Pierre La Mure. A Vida Privada de Mona Lisa, p. 94.)
O CONCÍLIO DE TRENTO E A ARQUITETURA RELIGIOSA
Apesar de o Concílio de Trento não ter definido regras de arquitetura e pintura para as obras da Igreja, suas disposições acabaram influindo na forma das construções, a partir de meados do século XVI.
As igrejas deviam encontrar-se bem iluminadas, a fim de que os crentes pudessem seguir os ofícios pelos seus livros, começando portanto a desaparecer a janela vitral.
O Concílio insistira na necessidade de pregar para combater a heresia e, portanto, o púlpito deveria ser colocado numa posição proeminente, de tal modo que o pregador pudesse ser convenientemente visto e ouvido.
Dado que os protestantes contestavam certos dogmas fundamentais da Igreja, estes deveriam receber uma ênfase especial nas pinturas e imagens encomendadas daí em diante.
(Adaptado de: J. H. Elliott, A Europa Dividida: 1559-1598, p. 113).
REFORMA E CONTRARREFORMA
Os movimentos religiosos conseguiram atingir todas as regiões da Europa.
Nas áreas onde penetrou a doutrina luterana, com o apoio decisivo dos príncipes alemães, a religião serviu de justificativa para a relação de dominação dos proprietários de terra sobre os camponeses. Nas áreas onde se estabeleceu o calvinismo, apoiado pela camada burguesa, a salvação, ligada à ideia do trabalho e da riqueza material, favoreceu o desenvolvimento do capitalismo.
Outro aspecto da Reforma foi a utilização da religião como um instrumento político de resistência ao poder supranacional dos papas e ao escoamento de capitais, através dos dízimos, para a Santa Sé.
A Contrarreforma, por sua vez, contribuiu para reafirmar a doutrina, renovar os costumes eclesiásticos e fortalecer o poder da Igreja nas áreas não atingidas pela Reforma Protestante.
A consequência mais drástica da Reforma Protestante foi o confronto das várias facções e seitas religiosas, frequentemente usadas pelos monarcas em proveito próprio, que acabaram extrapolando o plano nacional, gerando lutas pelo controle hegemônico da Europa.