Maquiavel, em sua obra O Príncipe, descreveu o modelo do governante perfeito, lançando as bases da ciência política. Morus escreveu Utopia, onde idealizou uma cidade perfeita em que vivem harmoniosamente governantes e governados. Rabelais, com as divertidas histórias dos gigantes-Gargântua e Pantagruel satiriza a Igreja, a superstição e a repressão que delas se originavam. Montaigne propunha o ceticismo como método, afirmando que a dúvida é uma atitude necessária diante de tudo, pois impede o fanatismo e desenvolve a tolerância, mostrando que ninguém é dono da verdade. Também no plano filosófico, deve-se destacar o nome de Erasmo de Rotterdam, humanista holandês que conciliou os novos valores com o cristianismo e criticou a postura retrógrada da Igreja no livro Elogio da Loucura.
Também em Portugal o Renascimento daria provas de sua fertilidade. O poeta Sá de Miranda, voltando da Itália, introduziu em seu país o novo estilo que será brilhantemente manejado por Luís de Camões, em especial em sua monumental epopeia Os Lusíadas, que reflete o esplendor e a miséria da expansão portuguesa, ao mesmo tempo em que narra toda a história do país, mesclando mito e realidade.
Na Inglaterra, William Shakespeare, adotando as medidas poéticas italianas, adaptando o soneto ao seu idioma, também se imortalizou como dramaturgo genial, produzindo tragédias, refletindo a miséria e a grandeza da condição humana. Entre suas principais obras sobressaem Hamlet e Macbeth, embora ele tenha ficado mais popular com a tragédia Romeu e Julieta.
Em fins do século XVI, entretanto, as obras artísticas ou filosóficas já revelam certas diferenças estilísticas em relação àquelas que se convencionou chamar de renascentistas, e refletem mudanças em curso no plano sociopolítico. O Renascimento começa então a desaparecer.
Entre as principais causas desse desaparecimento está o fato de que parte da Igreja, acomodando-se ao modo de vida capitalista, rompeu com o retrógrado clero romano, promovendo diversas reformas religiosas que originaram novas seitas cristãs. A partir daí, a Europa dividida entre católicos e protestantes é uma Europa em crise, onde predominam o obscurantismo, o fanatismo, as guerras religiosas e as fogueiras da Santa Inquisição. Nesse terreno árido, de medo e de incerteza, o Renascimento perde o equilíbrio e a harmonia que o fizeram florescer.
#SAIBA MAIS
- Dogma: Ponto fundamental de uma doutrina religiosa, apresentado como certo e indiscutível. Qualquer doutrina (filosófica, política) de caráter indiscutível.
- Hereges: Que professa uma heresia. Pessoa que professa ideias contrárias às geralmente admitidas.
- Heresia: Doutrina que se opõe aos dogmas da Igreja. Ato ou palavra ofensiva à religião.
- Reacionário: Contrário às inovações.
- Retrógrado: Que se opõe ao progresso; reacionário. Aquele que é aferrado à rotina ou às ideias antigas e, portanto, inimigo do progresso.
- Santa Inquisição: Antigo tribunal eclesiástico, também conhecido por Santo Ofício, instituído para punir os crimes contra a fé católica. Julgamento e quase sempre condenação dos hereges.